Algumas das composições atribuídas a Bernardim Ribeiro no Cancioneiro Geral revelam-se especialmente interessantes para uma compreensão global da sua obra à luz das teorias que o vinculam ao criptojudaísmo e procuram a projeção do dilema existencial associado a esta circunstância na sua escrita. No presente artigo analisamos, por um lado, a simbiose sacro-profana utilizada ora como alicerce para a construção de um poema a modo de contrafactum do Memento, oração do ritual católico da Missa, ora como base para a exploração semântica da palavra Quaresma. Por outro lado, detemo-nos nos versos compostos a uma senhora que se vestiu de amarelo, passando em revista a tradição simbólica de tal tonalidade em fontes literárias e iconografias, assim como lembrando as leis que obrigaram ao seu uso como distintivo dos hebreus. E prestamos atenção, ainda, à inclusão dos textos comentados no Cancioneirito de Ferrara, impresso, junto com a enigmática novela Menina e moça (1554), por Abraão Usque.
Some compositions in the Cancioneiro Geral attributed to Bernardim Ribeiro are especially relevant for a global comprehension of his work, considering the theories that link him to crypto-Judaism and search for a projection of the existential dilemma associated to this circumstance in his writings. In this paper we analyse, on the one hand, the sacred and profane symbiosis used either as a foundation for the construction of a poem in the way of a contrafactum of the Memento, the prayer in the Catholic Mass ritual, or as a basis for the semantic exploration of the word Quaresma (Lent). On the other hand, we will examine the verses dedicated to a woman who dressed herself in yellow, reviewing the symbolic tradition of that colour in literary sources and iconographies, besides remembering the laws that forced their use as a distinctive for Jews. And we also pay attention to the inclusion of commented texts in the Cancioneirito de Ferrara, published by Abraão Usque together with the enigmatic novel Menina e Moça (1554).